segunda-feira, 24 de outubro de 2011
Walter Morais - Inspiração divina para o bem da natureza
Nas mãos dele, tudo vira arte. Seja uma latinha de alumínio até vigas de madeira de postos de eletricidade.
Há 12 anos, o catanduvense Walter Morais desenvolve trabalhos de recuperação de móveis e criação de peças de decoração com objetos que muitas vezes não fazem sentido algum dentro de uma residência. Quatro tambores de máquina de lavar transformam-se em jogos de cadeiras e garrafas pets viram apoio para um banquinho reciclável. A reciclagem, segundo Morais, é a ‘palavra da moda’. “Hoje em dia todos falam em reciclagem para ajudar a proteger a natureza, e sei que isso é importante para o futuro de toda a humanidade”, argumenta. Tendo como prioridade em seu atelier renovar, reciclar e repaginar o que para muitos é lixo, o artista
mostra através de belíssimas peças que é possível reciclar o próprio lixo, fazer arte com esse material e transformá-lo em artigos de luxo. A inspiração para a criação das peças, Morais não consegue especificar de onde vem. “Não sei de onde vem, mas acho que é algo divino. Só pode ser de Deus, porque não tem outra explicação. Quando vejo, já criei peças que não tinha nem consciência no que poderiam ter se transformado”, comentou. O artesão disse ainda esbarrar em problemas para conseguir os materiais. “A Secretaria do Meio Ambiente nos impede de ir até conseguir essas peças”. Confira a entrevista:
mpo trabalha com artesanato e como esse trabalho é desenvolvido?
Walter Morais: Trabalho com esse tipo de reciclagem e repaginação de móveis e restauração há 12 anos. Venho desenvolvendo esse trabalho e agora, como a ‘bola’ da vez é reciclagem, estou desenvolvendo várias peças com esses materiais. Faço o lixo virar luxo e é o que está acontecendo hoje.
O Regional: Onde consegue esse tipo de material?
Walter: Consigo através do projeto Cidade Limpa, no próprio lixão, nas ruas...compro alguma coisa que as pessoas têm usado em casa, ou nas portas das fábricas e nas caçambas de entulhos para ver se aproveita-se alguma coisa. Em caçambas, é muito comum encontrarmos tacos e assoalhos das residências, forros, porta e janelas velhas. Janelas eu consigo recuperar bastante. Basta colocar vidro e espelho nela e ela vai para a decoração de qualquer casa luxuosa, uma peça que estava jogada fora.
O Regional: Qual a dificuldade que se tem em conseguir esse material?
Walter: A maior dificuldade é não ter abertura da Secretaria do Meio Ambiente da Prefeitura, no local onde descartam galhos e outros objetos. Não posso entrar para pegar. Esse material faz falta para mim. Já falei com o secretário do Meio Ambiente e outras pessoas da Prefeitura, mas não tivemos nenhum tipo de solução.
O Regional: O seu trabalho pode ser feito com antecedência, através de pedidos de clientes interessados?
Walter: Recebo encomendas, faço algumas peças e coloco à venda. Mas a maioria das peças as pessoas trazem para que eu possa restaurar ou trabalhar de alguma forma nelas. Trabalho com muita coisa que o pessoal nem sabe que é reciclado. Acaba tornando-se uma peça nova.
O Regional: Desses 12 anos, quantas exposições o senhor fez?
Walter: Exposição exclusivamente minha fiz apenas uma, no último dia 11. Essa exposição fiz sem o apoio de ninguém, sem ajuda da Prefeitura ou da Secretaria do Meio Ambiente. Só pedi apoios, tive de algumas empresas, e de outras não. Pedi apoio apenas com a logomarca do Meio Ambiente, mas infelizmente não foi possível. Para mim, seria interessante aparecer todos os apoiadores no sentido de material reciclado. Acompanho diariamente a quantidade de material que vem sendo descartado, parece que ninguém faz nada. Mas eu quero fazer para poder reaproveitar esses objetos, para que eles possam tornar-se úteis.
O Regional: Qual o significado que o seu trabalho tem?
Walter: Além de ser uma arte, é uma terapia. Trabalhei de empregado por 30 anos, e posso lhe assegurar que não há coisa melhor do que fazer essa terapia de reciclar, criar alguma peça. Tenho a satisfação também de saber que estou tirando do meio ambiente peças que vão prejudicar a humanidade mais à frente e hoje ela acaba transformando-se em peças de luxo.
O Regional: Qual é o aspecto mais positivo que existe no trabalho que desenvolve?
Walter: Acho que a reciclagem me dá ânimo para que o trabalho possa ser desenvolvido cada vez mais, com grande afinco e responsabilidade. Transformar peças e materiais considerados inúteis para grande parte da população, que saiu do lixo ou das caçambas de entulhos e ver que está na casa de alguma pessoa como uma obra de arte, uma peça de decoração e até mesmo de luxo.
O Regional: Qual é a peça que considera mais preferida do seu ateliê?
Walter: Minha peça preferida é um jogo de mesa que foi feito com quatro tambores de máquina de lavar roupa. É algo que não tinha valor nenhum mais, a não ser para aproveitamento de sucata. E olhar a peça pronta e ela se transformando em utilidade dentro de uma casa, não tem maior satisfação que essa. A peça ficou muito bonita, pois todos que a viram gostaram da qualidade. É uma peça que dá muito orgulho de ter feito.
O Regional: É comum trabalho semelhante ao seu em Catanduva?
Walter: Esse tipo de reciclagem eu não conheço. Talvez até possa ter alguém, mas ainda não o conhecemos. Mas alguém que recupera desde caixa de bacalhau, latinhas, peças de caminhão, de carro....tudo vira arte aqui. Desenvolvo meu trabalho sozinho, porque até hoje nunca achei ninguém que consiga seguir meu ritmo de trabalho e de qualidade.
O Regional: Acredita que um dia seu trabalho possa acabar?
Walter: Acredito que não acaba não, ele me dá cada vez mais vida. Sinto-me mais novo a cada dia que passa. Meu projeto futuro é tentar ensinar essa arte para um grupo de jovens e adolescentes e mostrar a importância que tem em recupera o que está jogado na rua, ensinar o valor que tem esse tipo de material para não acabar. Não vai acabar porque não vamos deixar. Vamos tentar passar isso para o maior número de pessoas possíveis.
O Regional: O trabalho exige muitos recursos financeiros?
Walter: Depende do material. Às vezes, compra-se tinta, parafusos...são coisas que não se encontra na rua. Entretanto, o mais ‘pesado’ é ter o material encontrado na rua. O que se pode comprar é fácil, mas o reciclado depende de pessoas querendo ajudar a gente. Utilizo todos os instrumentos possíveis para poder a peça sair da maneira que tem que ficar.
O Regional: Como foi o início do trabalho?
Walter: Começou por acaso. Sempre trabalhei em indústria metalúrgica e me deparei um dia fazendo caixas com pá de ventiladores. Saí de uma empresa para montar um negócio próprio e quando estava nesse período de transição, comecei a fazer umas caixinhas que se transformaram em tudo o que tenho hoje.
O Regional: De onde vem a inspiração para a criação dessas peças?
Walter: É uma situação engraçada...a peça que acho na rua, trago para o ateliê. Passo por ela durante todo o dia e de repente vem uma luz que acredito ser divina, para começar o trabalho. Só de ver, consigo determinar no futuro no que a peça pode se transformar. Tiro inspiração, mas acho que vem de cima. Não começo a imaginar na cabeça, mas vou desenvolvendo a idéia aos poucos.
O Regional: Como vê a atual situação do artesanato em Catanduva?
Walter: Infelizmente, acabou perdendo o sentido. A Feira de Artesanato (Fenart) não representa o nome que tem. Ela diz que é uma feira de artesanato, e eu acho que tem bastante artesãos em Catanduva. Infelizmente, fui na feira e estou cada vez mais chateado. Só vejo comida e bijuteria, e isso não é artesanato. Se fizermos uma análise do que acontece, há poucos artesãos e as demais barracas são distribuídas entre comida e bijuteria. Minha proposta seria uma grande feira no Recinto com pessoas que realmente trabalham com esse ramo, que pega a peça. Bijuteria seria arte se a pessoa tivesse fabricando, mas infelizmente não é isso.
Material tipo exportação
Além da recuperação de móveis e da criação de vá-rias peças, o artesão possui peças espalhadas em vários Estados do Brasil e em alguns países. Isso porque seu trabalho ficou conhecido e não restrito a Catanduva. “Já recebi encomendas de pessoas do Rio de Janeiro e até de paises como Estados Unidos e Portugal”, comentou. A maior satisfação do artesão é ver que o nome de Catanduva vai junto das peças. “Essa é uma satisfação que não tem preço. Sei que meu trabalho está em outro país, mas que ele teve origem em Catanduva”, comenta.
* Veja o vídeo da entrevista em www.oregional.com.br
Fonte:http://www.oregional.com.br/portal/detalhe-noticia.asp?Not=26567